Cansada de tentar expelir minha dor através de maneiras ineficientes, decido render-me a única coisa capaz de acalentá-la. Reduzo-me a palavras.
Ouço as gotas de chuva caindo lá fora. Restos de uma tempestade. Todos já fecharam as portas do mundo real mas eu ainda estou com a janela aberta, à espreita dos demônios que costumam atormentar-me.
Mas eles não se escondem mais embaixo da cama. Nem dentro do guarda-roupa. Quem dera. Quem dera.
É no momento em que todas as luzes se apagam que a minha se acende. Se engana quem pensa que eles gostam do escuro. Eles apenas permanecem na sombra. Esperando a hora certa.
Ao som de Leave out all the rest, observo compenetrada o teto do meu quarto. Como se ali estivesse contida a fórmula química para acalmar minha mente perturbada e hiperativa.
Estou tão absorta que não ouço quando o primeiro chega sorrateiramente. Ele deixa a sombra que o meu coração faz em meu peito, e caminha de mansinho até minha mente caótica.
Ele sussurra calmamente e delicadamente tudo o que eu sinto. E vai embora.
Logo mais, o segundo aparece rastejando por entre minhas entranhas. Deixando o túmulo no qual o enterrei noite passada. Ele diz claramente tudo o que eu faço de errado. E vai embora.
Passam-se alguns minutos, e eu ingenuamente acreditei que a procissão havia chegado ao fim.
De supetão, entretanto, o mais feroz dos demônios consegue quebrar as grades de aço que o prendem, e vai sem delongas até minha mente debilitada e confusa. Ele grita para que todos os meus neurônios o ouçam. Nenhum sai ileso. Ele grita a solução. Ele ludibria a todos. Distorce situações, pessoas e sentimentos. Faz tudo o que ele diz parecer tão… Certo. E vai embora.
Tudo o que permanece sou eu. Eu e meu pior demônio. Você deve saber qual é.
P.s.: Me desculpem por ter “abandonado” o blog nessa última semana. Mas eu estou com problemas graves na família e por isso estou sem tempo e cabeça para escrever. Então, durante esse período os posts serão mais raros e bem intercalados. 😉